“Não é só música, é Poesia”

A interpretação de uma música de The Beatles durante o Camping Rock abriu espaço para a confirmação da banda A Ruga, de Belo Horizonte, como uma das atrações do Musical Box Alive XII (sábado, 7 de novembro, Espaço Galpão).

Thiago Cruz (vocais, violão e gaita), Di Páscua (baixo), Mauro Fiereck (guitarra) e Wilks Rogers (bateria) chegaram à Viçosa com um repertório que incluiu como principal canção a ópera Rock Tommy (The Who), além de clássicos dos anos 70 e músicas próprias.

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Mesmo quem já acessa o Palco MP3 e se deparado com as gravações da banda, se surpreende com a performance ao vivo – tanto pelo estilo de tocar/cantar quanto pelo visual apresentado.

Com o primeiro CD em fase de pós-produção e divulgação, os músicos já preparam as composições do segundo álbum. Antes do show, conversaram com o Estúdio ao Vivo sobre a carreira e a importância de se valorizar projetos como o Musical Box Alive, no sentido de “dar força para essa cultura mais rebuscada, porque não é só música, é poesia”.

Inquietações musicais
Thiago Cruz – Era uma vontade em comum de fazer o que a gente gostava e levar para todo mundo o que a gente sabia fazer, o que a gente tinha de bom.

Infelizmente a gente mora num lugar, Belo Horizonte, que por mais que seja uma grande metrópole, culturalmente é extremamente difícil. Não tem facilidade lá pra gente. Então, sendo uma banda independente, a gente pode tocar em qualquer lugar e tocar fora de BH, levar um pouco da nossa realidade, a realidade que a gente coloca na nossa música para o pessoal de fora.

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Di Páscua impressiona pelo modo de tocar, e Thiago pela performance no palco

Por Minas
Thiago Cruz – O lugar mais longe é aqui em Viçosa. Eu acho que, de certa forma, é o ponto mais importante da nossa curta carreira. Porque acho que é um projeto de extrema importância para levar essa música de qualidade para o pessoal que às vezes não tem muito esse recurso, não tem muito pra onde correr.

A gente chegou na cidade [de Viçosa] e viu uma festa que estava acontecendo e mais da metade da cidade a gente viu que foi pra lá, e o show de Rock está acontecendo aqui. Isso não quer dizer que as pessoas não tenham cultura, de forma alguma. Isso quer dizer que é uma cultura diferente, e é isso que a gente busca trazer para a galera.

Há seis anos
Di Páscoa – Eu vim do Rock progressivo. Eu e o Mauro fizemos um trabalho progressivo, e a influência dele é mais o Heavy Metal, o Hard Rock. Conhecemos o Wilks, que vem do Pop e do Rock mais anos 70, ficamos procurando um vocalista durante algum tempo e encontramos o Thiago tocando numa banda de BH, cover de Led Zeppelin.

Thiago Cruz – A minha formação é muito parecida com a deles. Eu acredito até pelo que a gente conversa, pela nossa convivência, que tive esse acesso ao Rock Progressivo, ao Rock’n Roll mais rebuscado, desde muito cedo – coleções de Pink Floyd, coleções de The Beatles…

E sempre tive essa veia mais rebuscada no Rock. Além da MPB, que eu acho maravilhoso para a formação cultural e ideológica de uma banda de Rock brasileira, que passa desde a Bossa Nova – que é uma raiz para essa ideologia – depois pela Tropicália, aí o Chico e a Nara depois vêm na época da repressão. Acho que as influências são bem o Rock’n Roll mas bem abrasileiradas também.

Rock + MPB
Thiago Cruz – A gente tem um grande exemplo com o Clube da Esquina, que é um marco de Minas. Eles conseguiram unir isso muito bem. A influência total deles do Rock inglês da época, com os Beatles também, e conseguiram trazer isso para uma realidade bem mineira – aquela coisa do violão de nylon, das batidinhas mais jazzísticas, o pianinho mais “na manha” – e conseguiram juntar isso bem.

Pra gente não é difícil [unir o rock à MPB]. Apesar do nosso Rock – pelo menos nosso primeiro disco, porque estamos trabalhando no segundo – ter uma roupagem mais pesada, mais tensa e mais densa, a gente buscou muito na MPB pra compor principalmente as letras – algo mais complexo e mais profundo ideologicamente.

1º CD
Di Páscoa – A gente gravou o CD com nossos recursos independentes e estamos ainda para trabalhar com o lançamento dele. Vamos ver agora se a gente termina a capa e tal, mas a gente já está trabalhando no segundo. Vamos hoje distribuir umas cópias.

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Mauro mostra habilidade, técnica e segurança nos solos de guitarra

Mauro Fiereck – A distribuição mais maciça é via internet. Já que é difícil chegar a outros lugares do país, a gente hospedou no site Palco MP3 onde estão todas as músicas. As pessoas podem baixar gratuitamente, além de em todos os shows a gente distribuir sempre umas 30, 50 cópias, para divulgar mais.

Thiago Cruz – A questão da gravação do CD foi bastante interessante também, porque a banda já existia há um certo tempo. Eu fui o último
integrante a compor o grupo e o material já estava gravado. Eu tive que aprender essas letras, essa levadas, composições bem complexas para poder gravar. De certa forma, a gente pode dizer que a gravação foi pauleira mesmo.

Sempre que a gente vai tocar a gente coloca algumas composições nossas também. No caso do Musical Box Alive, o pessoal pediu pra gente tocar o Thommy do The Who, pediram pra dar uma preferência aos Rocks setentistas. Acho maravilhoso, é a minha paixão. Mas também deram esse espaço pra gente colocar as nossas composições, deram liberdade total. E a gente sempre colocar duas ou três músicas pra galera conhecer mesmo massivamente. Ver no palco e ouvir no palco é muito importante pra composição. E no final a gente sempre distribui o brinde pra galera, o CD.

Wilks Rogers – É importante falar que quando O Thiago entrou, encaixou como uma luva na banda. A gente esperava de um vocalista que chegasse e colocasse a sua cara na banda. Foi o que aconteceu: Thiago chegou, tem um estilo próprio dele, excelente músico, no geral, e colocou a sua cara, criando uma identidade da banda. Ele não pegou só nossas influências, ele colocou as dele também e fez uma identidade única da banda.

Composições próprias
Thiago Cruz – A maioria das músicas poderiam ser taxadas como políticas. Eu prefiro não ver assim justamente para não ter que taxar. O tipo de música que a gente faz é um tipo de música livre. Tanto que a gente está trabalhando em composições para o segundo disco bem inusitadas. Tem uns tangos, umas coisas mais diferentes desse universo.

Mas a gente procura passar com as nossas músicas um ideal de buscar algo melhor pra si próprio, principalmente – as letras têm muito esse cunho psicológico forte, pra você olhar para dentro de si e ver o que você está fazendo de bom aqui fora, fora do seu corpo. Tentar mostrar para o pessoal que pode se ter força para lutar contra o que
está ruim – aí a gente coloca o lado político, eu acho, a alcunha de música política – mas também músicas de cunho extremamente psicológicos, psicoterapêuticos, eu diria, porque tem músicas que são uma sessão de terapia musical mesmo.

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Wilks garante a apresentação perfeita com ótimas viradas no ritmo ditado pela bateria

Wilks Rogers – É diferente do que está no mercado, do que aparece na
mídia. Então a proposta também é causar um pouco de impacto. O pessoal perceber o novo, ver que tem outras maneiras de perceber a música. Essa também é uma das propostas da banda.

Thiago Cruz – Demonstrar para as pessoas que pode se ter uma liberdade cultural mesmo numa repressão cultural que, na minha opinião, a gente vive hoje com a massificação de determinados ritmos, de determinados estilos, de moda, de música, de literatura. Mesmo assim você pode ter essa liberdade cultural, não só em ouvir, mas em fazer alguma coisa para mudar o meio em que você trabalha.

2º CD
Thiago Cruz – É um projeto talvez completamente diferente musicalmente do que o primeiro. Até depois que eu entrei para o grupo, eu tenho muita influência do Blues e acabei trazendo isso um pouco para a banda – tanto para as composições quanto para o estilo vocal. Então a gente está procurando buscar mais esse tipo de composição: mais crua, mais direta, que você coloca a música e diz pensa “essa música diz exatamente o que quer dizer, não precisa de rodeios nem de floreios”.

Acredito que até o meio do ano a gente já tenha gravado alguma coisa, depois que a gente conseguir planejar de uma forma mais concreta o lançamento do primeiro, que a gente não conseguiu ainda.

·······
O Musical Box Alive XII contou também com a participação de Flávia Duboc Blues Band. Próximo domingo você confere a entrevista exclusiva com os integrantes, na estréia ao vivo da banda.

5 comentários sobre ““Não é só música, é Poesia”

  1. Agradecemos por toda a atenção do Estúdio Ao Vivo, da produção do Musical Box Alive, o Espaço Galpão e ao público de Viçosa! Foi uma noite maravilhosa e esperamos repetir em breve!
    Paz e rock and roll pra todos!

  2. Foi uma noite mágica… conexão total entre banda e público… algo muito intenso, muito bom… como disse, foi mágico…

    Valews!

  3. Parabéns Lara, a matéria ficou excelente!
    O projeto Musical Box Alive tem como principal objetivo disseminar a música de qualidade, com menos apelo comercial e mais sentimento e propósito, seja ela do Blues, Jazz, Rock e a nossa excelente MPB!
    O Estúdio Ao Vivo e o Programa Musical Box são parceiros neste projeto e podem contar conosco sempre que precisarem!

    Sobre a banda A Ruga, fico feliz de poder ter indicado a banda do excelente Thiagão que quebrou tudo aí em Viçosa! Sonzera de primeira!! Ontem vi ele na Curaçao Blues e detonou mais uma vez! Temos mais para Viçosa!

    O show do Jefferson Gonçalves vem ai para estourar a boca do balão !!

    Abraços a todos !!
    Lucas Scarascia – um dos fundadores dos projetos: Programa Musical Box, Musical Box Alive e Musical Box In Concert

    • valeu, Lucas! parabenizamos a iniciativa do Musical Box. com certeza o objetivo de disseminar música de qualidade vem sendo cumprido com apresentações de bandas fantásticas.

      aguardamos ansiosas o próximo Alive para mais uma grande cobertura.

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