Uma Bahia de talentoA
Bahia tropicalista estava em efervescência cultural no final da década de 60. A música do estado sofreu uma revolução jamais vista antes.
Genética privilegiada?
Em Santo Amaro, em pleno período de guerra, nasceram dois irmãos que mudariam de vez a história daquela cidadezinha. Em 1943 nasceu o quinto filho de Seu Zezinho e dona Canô: Caetano. Um garoto que cresceu ouvindo as canções que faziam sucesso na época. Por influência de uma música de Capiba, imortalizada por Nelson Rodrigues, ele escolheu o nome de sua irmã mais nova: Maria Bethânia.
A menina começou cedo na música. Já em 1965 era apontada como uma das melhores cantoras do país, após substituir a consagrada Nara Leão em um espetáculo. O garoto não ficou atrás e logo também apareceu, com ajuda da irmã, que bancou o início da sua trajetória.
Amigos, amigos: um capítulo a parte.
O primeiro LP de Caetano foi um dueto com uma outra baiana: Gal Costa. Intitulado Domingo o disco foi bem aceito e alavancou a carreira de ambos. Gal lançaria, dois anos depois, seu primeiro disco solo.
Parceiro de Caetano Veloso, Gilberto Gil também chegou ao cenário musical sob influência direta de Bethânia. Os grandes amigos formaram uma das mais respeitáveis parcerias musicais da nossa música. Caetano seria citado pelo The New York Times como um dos maiores compositores do século XX, no fim da década de 90. Gil e Veloso foram presos pela ditadura militar e se exilaram em Londres e Paris, ainda na nos anos 60, retornando alguns anos depois.
Ao lado de Bethânia, Veloso, Gil e Gal, um outro amigo em comum, com idéias revolucionárias e som um tanto quanto experimental, surgiria para mostrar ao que veio. Tom Zé, nascido em Irará, no sertão da Bahia, não alcançou o mesmo sucesso dos amigos, mas ganhou bastante espaço após David Byrne, antigo vocalista da legendária banda Talking Heads, descobrir e lançar seus discos nos Estados Unidos e Europa.
Outro nome que não pode ser esquecido é o de José Carlos Capinam, considerado um dos maiores letristas da década de 60. Compositor de músicas que fizeram amplo sucesso como Ponteio e Soy Loco por Ti América.
O comum entre eles
Os irmãos da família Veloso, Gil e Tom Zé começaram a vida artística em espetáculos amadores em Salvador como Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova e Nós Por Exemplo. Já com a participação de Gal Costa e Capinam, além de vários outros musicos e artistas do Brasil, criaram o movimento chamado de Tropicalia.
Todos eles eram assíduos participantes dos festivais de música brasileira na década de 60, conseguindo alguns êxitos e algumas vaias – casos de Gil e Caetano no Festival de 1967, quando foram copiosamente vaiados pelo público quando começaram a tocar, para serem, logo em seguida, aplaudidos de pé ao final de suas apresentações. Capinam, ao lado de Edu Lobo, foi vencedor desse mesmo festival com a música Ponteio. Tom Zé venceria a competição um ano depois com a música São, São Paulo Meu Amor.
O que ainda havia de novo
Influenciados pelos nomes emergentes da cena brasileira, surge o grupo Novos Baianos, sob a batuta de Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e da carioca Baby Consuelo. Pouco tempo depois incorporaram a banda A Cor do Som, que contava com a presença de Pepeu Gomes (guitarra), seu irmão Jorginho (bateria), Dadi (baixo), Baixinho e Bolacha (percussão), como elementos oficiais do grupo.
Com a entrada definitiva do A Cor do Som foi possivel misturar ritmos tipicamente nordestinos (frevo, afroxé, entre outros) ao rock, utilizando ainda pitadas de elementos eletrônicos existentes na época. O grupo lançou seu ultimo trabalho em 1997, após um hiato de 19 anos. De lá pra cá, nada mais foi lançado.
A Bahia, que é de todos os santos, é também de todos os ritmos e possibilidades. Um lugar onde toda mistura pode dar certo e nenhuma será desprezada. Onde a música não é só letra e melodia, mas sim um estado de espírito.