Tropeça que é Rock

O público que se encaminhava para a Festa do Pijama no Espaço Multishow em Viçosa/MG – tema do primeiro dia do Viçosa Folia, sexta 27/11 – já cantava o sucesso “Como você pode abandoná eu”. De autoria do vocalista Fabiano Cambota, a canção de Pedra Letícia (Fabianinho Áquila, voz e baixo; Thiago Sestini, percussão) traz o humor recorrente em todas as canções do disco homônimo. Com influências de Ultraje a Rigor, Blitz, Odair José, Sidney Magal e Reginaldo Rossi (com quem gravaram “Em plena lua de mel”), a banda se autodefine “brega-pop-rock com pitadas de Luiz Caldas”.

Fabiano Cambota, Fabiano Áquila e Thiago Sestini, integrantes da banda Pedra Letícia

Este estilo inusitado e a autenticidade do trio ficam evidentes na apresentação ao vivo, que contou ainda com os músicos Zé junqueira (bateria) e Fabio Pessoa (guitarra). Com versatilidade, a banda interpretou o repertório que incluiu músicas do CD próprio e versões irreverentes de canções marcantes dos anos 80, infantis, sertanejos e pops, como “História de uma gata” (Chico Buarque), “O vira” (Secos e Molhados), “Carimbador Maluco” (Raul Seixas), “Fio de Cabelo” (Chitãozinho e Xororó), Meu sangue ferve por você (Sidney Magal) e Baba Baby (Kely Key).

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A força do Rock, o improviso do Blues

Uma mistura de influências, personalidade vocal, arranjos inusitados e acordes precisos.

Entre espontaneidade e uma energia que contagiou o público do Projeto Musical Box Alive XII, a banda tricordiana Flávia Duboc Blues Band subiu pela primeira vez ao palco no dia 07 de novembro, em Viçosa – MG.

Banda Flávia Duboc Blues Band e produção do Musical Box Alive

A estréia, carregada de experiência e sintonia entre Júlio Paiva (bateria), Cristiano Lemos (guitarra), Cristiano Valério (contra-baixo), Fernando LemosTanando – (guitarra e vocais) e Flávia Duboc (vocal), refletiu a qualidade dos músicos e o processo de produção do primeiro CD da banda, em fase de finalização.

Antes do show, os integrantes conversaram com o Estúdio Ao Vivo sobre a estréia nos palcos, as influências e a reunião de músicos para trazer a força do Rock’n Roll à tradição do Blues.

A reunião dos músicos
Tanando – Eu sou tricordiano mas morei 23 anos em BH, então eu toquei com todo mundo lá: Samuel, antes de Skank, conheço ele há mais de 20 anos, desde 1983; o Marco Túlio do Jota Quest foi tecladista da minha banda, que chamava Outsider, de Blues Rock também, e por aí vai.

A experiência de Fernando Barbosa (Tanando)

A experiência de Fernando Lemos (Tanando)

Quando eu voltei para Três Corações, depois de 23 anos, eu quis continuar. E o Cristiano baixista e o Cristiano guitarrista têm formação de banda de baile, tocaram muito tempo em banda-show, o Julio é formado em bateria em consevatório, fez aula até com o Tom Zé, eu tinha uma banda em Três Corações chamada “Lá vai porva”. Mas aí quando eu conheci a Flávia lá em Cambuquira, a gente resolveu gravar um CD. E eu fiquei fascinado com a h ipótese de ter uma mulher tocando, porque eu adoro vocalista mulher de Rock’n Roll. Sempre procurei isso em BH e não consegui, e nunca imaginei que fosse encontrar ela lá do lado da nossa fazenda, em Cambuquira.

Flavia – E ele veio de BH e eu de Macaé.

Tanando – E tem mais essa, a Flávia morava em Macaé, eu morava em BH. O lha o tamanho do Brasil. Eu mudei pra fazenda, ela mudou pra Cambuquira, a gente se conheceu e resolveu montar a banda porque isso já era um projeto que eu tinha há muito tempo, de fazer uma banda de Blues Rock’n Roll. Não é u ma banda de Blues específico. Você vê que é bem pauleira.

Eu tenho uma banda que eu já toquei com os dois “Cristianos”, a Flávia tem a banda dela que é lá de Cambuquira, mas a gente resolveu montar uma banda de Blues Rock. Então vocês estão tendo a oportunidade de ver em primeira mão.

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“Não é só música, é Poesia”

A interpretação de uma música de The Beatles durante o Camping Rock abriu espaço para a confirmação da banda A Ruga, de Belo Horizonte, como uma das atrações do Musical Box Alive XII (sábado, 7 de novembro, Espaço Galpão).

Thiago Cruz (vocais, violão e gaita), Di Páscua (baixo), Mauro Fiereck (guitarra) e Wilks Rogers (bateria) chegaram à Viçosa com um repertório que incluiu como principal canção a ópera Rock Tommy (The Who), além de clássicos dos anos 70 e músicas próprias.

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Mesmo quem já acessa o Palco MP3 e se deparado com as gravações da banda, se surpreende com a performance ao vivo – tanto pelo estilo de tocar/cantar quanto pelo visual apresentado.

Com o primeiro CD em fase de pós-produção e divulgação, os músicos já preparam as composições do segundo álbum. Antes do show, conversaram com o Estúdio ao Vivo sobre a carreira e a importância de se valorizar projetos como o Musical Box Alive, no sentido de “dar força para essa cultura mais rebuscada, porque não é só música, é poesia”.

Inquietações musicais
Thiago Cruz – Era uma vontade em comum de fazer o que a gente gostava e levar para todo mundo o que a gente sabia fazer, o que a gente tinha de bom.

Infelizmente a gente mora num lugar, Belo Horizonte, que por mais que seja uma grande metrópole, culturalmente é extremamente difícil. Não tem facilidade lá pra gente. Então, sendo uma banda independente, a gente pode tocar em qualquer lugar e tocar fora de BH, levar um pouco da nossa realidade, a realidade que a gente coloca na nossa música para o pessoal de fora.

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Di Páscua impressiona pelo modo de tocar, e Thiago pela performance no palco

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É tempo de Alceu

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No último sábado (31), o conhecido sotaque nordestino de Alceu Valença ecoou pelo Espaço Aberto de Eventos da Universidade Federal de Viçosa com o ritmo que sustenta com autenticidade desde o início da carreira.

Em turnê com o disco Ciranda Mourisca, Alceu reedita, junto aos músicos Paulo Rafael, Rissashi Honda, Dito Inácio, Edwin de Olinda, Jean Dumas e Fernando Nunes, canções “lado B”. No entanto, o cantor não deixou de apresentar músicas como Coração Bobo, Morena Tropicana, Girassol, La Belle de Jour e Sabiá, cantadas por grande parte do público presente no encerramento da Nicolopes 2009.

A festa teve início por volta de 16h com a banda Bartucada em trio elétrico, que prosseguiu do Estacionamento do PVB (UFV) até a Avenida PH Rolfs e, depois, com som mecânico e discursos de organizadores e apoiadores, até a Avenida Santa Rita. O evento ainda contou com participação dos vencedores do Festival de Bandas Nicolopes: NV Rap.

Antes do show, realizamos entrevista exclusiva com Alceu Valença. Confira:

fotoAlceu por Alceu

A essência continua a mesma. Porque as minhas músicas vêm das minhas referências culturais e as referências culturais minhas são, sobretudo, brasileiras. Evidentemente que eu não vou fechar os ouvidos às coisas que acontecem também fora do país, mas isso é 5%.

Ciranda Mourisca

Em Pernambuco tem um ritmo chamado ciranda, um gênero musical, e eu venho fazendo isso esporadicamente. Desde o primeiro disco que eu fiz essa história. Só que a partir de agora, neste disco, eu quis reunir várias músicas que tinham a ver com o tema desse tipo de música do povo, que toca na beira da praia. Hoje em dia está um pouquinho caído já essa história, porque a modernidade é boa por um lado, mas acaba com determinadas coisas, sobretudo a inocência, a beleza e a espontaneidade.

Popularidade

Mas essas minhas músicas não vão ficar populares também não. Não ficam porque minhas músicas não tocam no rádio. Minha música se sustenta muito por causa do meu show mesmo. As pessoas veem meu show, falam pras outras que gostaram, essas pessoas virão e falarão pras outras. Então meu público é um público que se renova a vida toda. Aliás, se renova e ao mesmo tempo fica com gente muito mais velha também.

A Luneta do Tempo

Eu tenho essa questão do tempo. O tempo pra mim não existe, o tempo pra mim é elástico. Ele vai pra frente e pra trás. Vou fazer até um filme agora chamado “A Luneta do Tempo”, em que eu discuto essas loucuras.

Quando eu fiz 50 anos, eu comecei a pensar isso. Aliás, eu sempre dentro da minha música, dos meus discos, eu falo sobre o tempo. Tempo é uma coisa neurótica. Mas com 50 anos eu tinha um menino de 3 anos. Então, eu fiquei pensando sobre o tempo. E depois me lembrei que o tempo está passando pra ele, pra mim, pra você, pra ela, pr’aquele cara que tá passando ali, pr’aquele menino ques está ali. O tempo é uma coisa que passa pra todo mundo. Mas quando eu falo do tempo é uma questão de discussão filosófica a respeito do porquê. O porquê da existência… Mas isso não é uma grande novidade porque Aristóteles já pensava isso na Grécia.

Música Nordestina

É uma música que tem uma raiz. Mas atualmente é um fenômeno que está acontecendo que os artistas deixaram de ser artistas para ser comandados pelos donos de bandas, empresários que não conhecem coisa nenhuma de música, absolutamente nada. E que podem até fazer aquela música: se eles não dissessem que aquilo é forró, tudo bem. Pode ser potó. Pode ser bidó. Pode ser popó. Mas forró não é. O que aconteceu: eles colocaram o nome de forró naquela história para poder tomar as festas de são joão, eles participarem das festas, nessas prefeituras, então tinham que colocar o nome de forró.

Então, porque são absolutamente competentes na área do negócio, eles conseguiram tirar a rapaziada, as pessoas que faziam a coisa verdadeira. Então é aquela coisa de comércio e mais nada. Aliás, o mundo tá virando um pouco assim: só comércio.

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A produção havia anunciado a participação da Banda Muito Mais  e a abertura do show pelo grupo NV Rap, o que não ocorreu.

Agradecemos ao produtor Dino e ao cantor Alceu Valença pela atenção e por nos proporcionar um dos melhores shows que já acompanhamos pelo Estúdio ao Vivo.

Site Oficial Alceu Valença

Foto: Amanda Oliveira
Imagem de topo: Lara Marx