Um presente para Elis … e para Tom
O que acontece quando dois fenômenos da MPB resolvem se juntar na gravação de um disco? O resultado de um desses encontros foi conhecido há mais de 30 anos, quando Elis Regina e Tom Jobim gravaram ‘Elis e Tom’, em 1974, reconhecido internacionalmente algum tempo depois como um dos 10 melhores álbuns da história da música.
Elis era gaúcha da capital do Rio Grande, de onde saiu ainda menina. Jobim, um carioca da gema, apaixonado por sua terra. A guria era valente e, dotada de voz inconfundível, cantava em romaria e prece. O rapaz era boêmio , maestro das noites cariocas e das garotas de Ipanema. Ela era do povo e o povo era dela. Ele era da bossa e a bossa era dele. O que ambos têm em comum é a genialidade. A genialidade do compositor Tom e a da intérprete Elis.
Os dois ícones da nossa música popular se reuniram para gravar Águas de Março, do próprio Jobim, para o disco Elis, em 1971. Tom não pestanejou em comentar a interpretação da gaúcha: “Elis, nem Frank Sinatra faria melhor!”. Quando perguntada por executivos da Philips, gravadora com a qual completara dez anos de contrato, sobre o que queria de presente, Elis também não exitou em dizer que queria gravar um disco com músicas de Tom … com Tom.
O carioca, na época, morava em Los Angeles, nos Estados Unidos, e não poderia voltar para o país para gravar o projeto da cantora, mas Elis fez as malas e, ao lado do marido César Camargo Mariano e outros músicos que também participariam das gravações, viajou até a Califórnia. Foram recebidos numa manhã chuvosa por um Tom Jobim de pijamas, pantufas, uma rosa vermelha na mão e uma lista de 20 músicas.
O álbum é composto por um conjunto de 12 pequenas obras primas compostas por Tom e alguns de seus parceiros, como Vinícius de Moraes. Mais do que músicas, o disco contém peças que se encaixam perfeitamente. Além de Águas de Março, estão presentes canções eternizadas como Corcovado, Retrato em Branco e Preto, Por Toda a Minha Vida e Só Tinha de Ser Com Você. Esse ano o disco foi remasterizado e lançado em cd, ganhando ainda duas faixas bônus, não lançadas no original: Chovendo na Roseira e Inútil Paisagem.
Infelizmente hoje já não somos brindados com novas doses do talento desses dois mitos da música brasileira. Elis morreu jovem, aos 36 anos, vítima de overdose, em 1982. Tom faleceu 12 anos mais tarde, quando morava em Nova York, aos 67 anos. Apesar de não estarem mais entre nós, deixaram como legado o maior disco da história da MPB: Elis e Tom.