Em meio a um universo de influências e formações musicais comuns, destacar-se em um mundo de ideias alternativas é mostrar em toda linguagem – melódica, poética e corporal – a busca por autenticidade, sem medo de experimentação, e a valorização da identidade regional.
O Grito Rock, em seus 130 palcos espalhados por 9 países da América Latina, agrega a diversidade no estilo e o desafio no tempo: desde 2003, os blocos neste Carnaval são puxados por arranjos de peso.
Neste ano, o Estúdio ao Vivo acompanha a produção do Coletivo Corrente Cultural em Poços de Caldas-MG, que registrou 183 bandas inscritas para o Festival. As 12 selecionadas entoam o enredo dos 4 dias de shows com composições próprias, revelando os acordes da realidade alternativa/independente do Brasil.
Do som intimista e elementos reciclados do Punk ao clima nostálgico e retrô – influências de bandas como Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Los Hermanos -, a banda Utopia abriu o Grito Rock mostrando suas diversas faces. Em cada integrante, uma característica faz soar este timbre: a serenidade das notas de Pedrinho (guitarra), de passo miúdo e tímido; a entrega de Cido entoando ápices na voz e guitarra; a serenidade de Chumbinho num baixo solado em completo espontâneo; e a energia extravasada na pele da bateria de Daniel.
Infiltrados numa melodia detalhada, os sons em conjunto revelam um estilo muito bem definido de um caminho construído em poucos anos de estrada: formada em 2005, Utopia passou a cantar músicas próprias em 2008 e gravou o EP Monólogo um ano depois. O público que lotou o espaço do New York foi recebido com versões de músicas deste último trabalho e refrões inéditos a serem lançados ainda este ano, dentre eles um arranjo-ápice a quatro mãos em base de bateria-percussão-espetáculo.
Os intervalos marcados pela trilha sonora (de Novos Baianos a The Strokes, de Radiohead a The Doors) com a mesma diversidade das bandas que sobem ao palco ascendem o Grito ao nível de um Festival de completo Rock.
Doses de Blues e Baião compõem a batida interiorana da banda Pé de Macaco. O solo inicial da gaita parecia prever um soar melancólico, de se apreciar em pequenos goles, de se acompanhar do balcão. Mas, já no primeiro conjunto de notas experimentadas por Felipe Barbosa (guitarra e vocal), Arthur Romio (guitarra e vocal), Eduardo Porto (bateria e backing) e Lucas Martini (baixo e gaita), revelaram-se uma brasilidade embriagante e um Rock’n Roll devastador.
A proposta de, desde 2009, investir em “multicultura, versatilidade, energia e subjetividade” foi gravada no EP lançado neste ano com as faixas “Música da Naty”, “P.A.C.”, “Baby, eu Cansei” e “Coroné Antonio Bento”. Mas é ao vivo que o grupo revela todo um extravasar em múltiplas linguagens. Até marchinhas em pout-pourris com solos de guitarra marcam o redemoinho de ritmos de Pé de Macaco.
O olhar faceiro de um menino em lente preto e branca evolui para um simples rabisco a la giz de cêra em mãos: além da música, obras da ExpoGrito 2011 – transmitida nas telas – emolduraram o ambiente com as cores e as formas de artistas de todo o Brasil.
Se há uma forma de descrever a força do Grito Rock, ela está na interpretação da Banda K2. Diego Ávila (baixo e vocal) e Douglas Maiochi (bateria) bradam em solos a mensagem das letras e transmitem pela melodia as ideias que, visceral, Pedro Cezar (guitarra e vocal) traduz.
De “Ontem Acabou o Nosso Amor” a “Locomotiva”, os músicos revelam que o caminho de 13 anos trilhado pela banda é “reinventar”: da pura sensibilidade em onomatopéias soladas ao descarrilar de influências brasileiras; do intenso em suingue do Ska à velocidade Metal. O som se constrói como vagões de carga – do alinhamento ao peso -, em multi-solos de guitarra, marcações pesadas do baixo e ritmos sincopados de bateria.
Com discurso em favor da necessidade de “Mudanças” – música que elevou o sentimento de revolução pelo som – e mesmo nos versos de sambas entoados, como em “As Rosas não Falam” (Cartola), K2 ensina o que é ter essência de Power Trio.